quarta-feira, 30 de maio de 2012

Dupla Fenda


A experiência conhecida por Dupla Fenda é um dos mais intrigantes da física. Ela exemplifica o quanto a senso comum - e a física clássica – se distanciam do domínio da mecânica quântica (MQ). Se você não conhece os efeitos de experiências no domínio da física quântica, irá se surpreender com o resultado desta. No domínio cotidiano, não há um objeto que apresente o comportamento dual de partícula e onda. Imagine este estranho objeto que pode se chocar com um poste como uma esfera de aço ou contornar o mesmo como uma onda de rádio. Impossível? Bom, no mundo macro é improvável você testemunhar isso, mas no domínio micro, na MQ, isso é comum.

Ficheiro:YoungsDoubleSlit.png


Dupla fenda: figura do Wikipédia (1).


Veja, na figura anterior, primeira e segunda parte, o que acontece quando um feixe de luz polarizado passa por um orifício e incide sobre um anteparo. Vamos supor que ambas as fendas existam e que tapamos uma de cada vez nos exemplos apontados. O estranho ocorre na última parte da figura: o resultado da luz no anteparo para os dois orifícios aberto não é a mera soma dos resultados anteriores. Ao invés de dois focos, temos o chamado padrão de franjas característico de interferência de onda. A próxima figura, parte superior, vemos a luz vermelha como de uma lanterna na parede escura. É assim que é observada no anteparo quando uma das fendas é obstruída.

File:Single slit and double slit2.jpg

Para um ou duas fendas (2).

Se o resultado com o anteparo aberto fosse a soma de duas exposições, equivaleria a observação de dois focos vermelhos no anteparo escuro. No entanto, observado certa distância entre as fendas e outros detalhes técnicos, o padrão apresentado na parte inferior da figura acima.


As figuras abaixo ilustram o que ocorre na experiência da dupla fenda mesmo quando se é possível disparar fóton a fóton (um por um) se mantendo as fendas abertas.

Fig. 2 Single electron events build up to from an interference pattern in the double-slit experiments.

Construção, ponto a ponto, do padrão de interferência: impactos pontuais de fótons num anteparo sensível a luz. (3)


Paulatinamente, ocorre a construção do padrão de interferência.

Uma densidade maior de impactos. A conclusão é obvia aqui: o fóton (único disparado) interfere consigo mesmo, passando por ambas as fendas simultaneamente.

O interessante é que quando se tenta observar por onde o fóton passa, por quais das fendas, através de sensíveis detectores instalados junto aos orifícios, o padrão de interferência é destruído. Um dos detectores alardeia a passagem do fóton: com isso, não há interferência. É interessante notar que o fato de observarmos o fóton, ou qualquer partícula do domínio da MQ, a sobreposição, a característica de estar em vários lugares simultaneamente (sua onda espalhada pelo espaço) some. 

Neste caso, quando o cientista opta por observar o fóton, é como se este percebesse que se espera um comportamento de partícula (passando por uma fenda ou outra). Ao se desligar os detectores, é como se o fóton recebesse o aviso de que o comportamento esperado é de onda (interferência).

Esta experiência demonstra, sem qualquer dúvida, o comportamento duplo - partícula e onda - presente na luz. Mais ainda, revela que a medição interfere diretamente na experiência: o cientista "forma um conjunto" com sua experiência, influindo no resultado final de forma cabal.

Como se não bastasse tudo isso, outra informação poderá surpreender ainda mais o leitor. Falamos que se instalarmos sensores que possam nos indicar por qual das fendas o elétron (ou fóton) passou, o padrão de interferência é destruído, ou seja, o comportamento como partícula é evidenciado.

Vamos elaborar um pouco mais nosso experimento. Suponha que há um sensor para cada fenda. Quando o elétron (ou fóton) passa por uma delas, o sensor dispara uma pequena luz num dado painel e assim informa que foi acionado. Agora imagine que está luz no painel é comum a ambos os sensores (um processo determinado, embaralha o sinal de ambos os sensores de forma que não podemos os distinguir mais). Isso significa que embora os sensores captem o elétron (ou fóton) na fenda, o cientista não poderá saber por qual fenda ocorreu a passagem, pois a luz acende para ambos os casos. O surpreendente: o fato da informação ser oculta, de não se poder diferenciar qual sensor emitiu o sinal de passagem do fóton,  é suficiente para gerar o padrão de interferência.

Considero a leitura do texto de Osvaldo Pessoa Jr, disponível aqui, de muita importância para melhor compreensão do experimento aqui descrito.



(1) http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/56/YoungsDoubleSlit.png

(2) http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c2/Single_slit_and_double_slit2.jpg

(3http://www.hitachi.com/rd/research/em/doubleslit.html



sexta-feira, 25 de maio de 2012

O Tempo: Visão Clássica


Para nós, físicos convictos, a distinção entre o passado, o presente e o futuro é apenas uma ilusão, ainda que persistente.
Albert Einstein


O que é o tempo? O tempo, assim como a energia, tem uma unidade mínima? O que passa quando dizemos que o tempo passou, que coisa é essa? É possível um universo sem tempo? Será que há algo que forma o tempo, algo da qual ele é resultado assim como as chuvas resultam da condensação de água? Será que o tempo é um mero artifício da natureza para impedir que todos os eventos sejam simultâneos?

É importante lembrar que a física trata o tempo como uma dimensão. Dos textos sobre relatividade (especial e geral), em linhas gerais, pode se dizer que implodiu a ideia dos físicos do século XIX, de que o tempo é único e universal, ou seja, que há um relógio universal pelo qual todos devem se guiar. Cada observador pode postular que seu relógio é um referencial válido (um relógio em perfeito funcionamento, lógico).

Na teoria da relatividade, de Einstein, o tempo se apresenta como uma dimensão. Em termos matemáticos isso funciona de maneira extraordinariamente formidável, com precisão só comparável a mecânica quântica. Porém, ha diferenças muito gritantes a nossa percepção. Para um observador no espaço, livre de forças, ele é incapaz de definir as direções (para cima, para baixo, direita, esquerda, etc) sem considerar a si mesmo como referencial.

Pode se deslocar a uma gama apreciável de diferentes velocidades, podendo, algumas vezes escolher essas. Ainda considerando tal observador, mas levando em consideração a percepção do mesmo em relação ao tempo, no espaço, ou deitado em sua cama, ou de pé na lua, em qualquer lugar, ele perceberá o tempo passar rumo ao futuro, num ritmo constante (só percebido diferente mediante a expectativas que alterem suas necessidades ou desejos, como a espera de uma pessoa querida ou a pressão de entregar um trabalho importante ao chefe). Não existe um aparelho externo que o faça parar seu avanço no tempo, ou que lhe dê a sensação de aumento de velocidade do mesmo.

Outro fato que a relatividade especial transparece é o tratamento igualitário de passado, presente e futuro: a realidade é composta pelos três. Este momento, lendo estas palavras, é tão importante quanto qualquer outro ponto no tempo. Segundo Einstein, a foto que vemos (e imaginamos) compor o universo, a posição de tudo que compõe o momento considerado (você, seus amigos, seus objetos, os prédios de sua cidade, todas a árvores do mundo, as estrelas, etc), esse quadro imaginário como o momento – um congelar no tempo - é uma ilusão, uma percepção pessoal.

Dentro do estudo da relatividade, é mostrado que observadores em movimento entre si podem discordar sobre simultaneamente de eventos, sobre o ritmo do tempo, além do tamanho de objetos e massa de objetos. Isso implica que, embora você esteja vendo o outro observador, que se move em relação a você, mesmo que estejam muito próximos, o movimento relativo fará a “fotografia” do agora, do momento, de ambos diferirem (a diferença é tanto maior quanto for a velocidade relativa entre ambos). Para qualquer tempo, do seu ou do relógio dele, cada um terá uma percepção diferente da realidade.

Por que isso não é uma experiência comum? O motivo pelo qual essa informação é estranha ao nosso cotidiano? Tais efeitos são imperceptíveis para as velocidades que estamos acostumados, mesmo para um carro de fórmula 1 os efeitos descritos só seriam perceptíveis aos nossos sentidos em velocidades próximas a da luz.

Como não pretendo fazer um tratado de relatividade aqui, vamos ao que interessa: em certas circunstâncias, uma combinação de distância com direção e velocidade, uma pessoa - em um planeta muito distante - pode incluir todo o ciclo de existência de outra - aqui na Terra - no seu “agora”. A primeira pessoa, o que ela considera o momento, ao caminhar em dada direção, pode abarcar o futuro da segunda (tomando este exato instante, aqui na Terra, como referência). Ao parar de caminhar, estará vivenciando o agora dos terráqueos. Ao inverter a direção de sua caminhada inicial, incluirá o passado do habitante da Terra.

Não vou discutir o acesso do nosso hipotético extraterrestre às informações do nosso planeta e seus habitantes, ou um em particular, nesta discussão. O nosso distante observador pode jamais vir a ter as notícias da Terra, mas não deixaremos de se incluidos nos “momentos congelados” no tempo dele durante sua caminhada, digamos, 100 anos da historia da humanidade.

Isso é intrigante.

Não há qualquer indício experimental que a relatividade esteja errada. Os teste cada vez comprovam mais a precisão e previsões desta fantástica teoria científica.

Sobre os últimos parágrafos, Brian Greene escreveu:

(...) se observarmos com atenção esse esquema temporal que nos é familiar e o confrontarmos com os frios fatos da física moderna, o único lugar em que ele (o tempo) pode existir parece ser a mente humana.

Embora a citação acima esteja fora de contexto da obra do renomado físico, e isso leve o leitor a considerar a mesma de uma forma bem mais forte do que a provável intenção de Greene, não foi sem propósito.

Retomando a interpretação dos físicos, ao menos a maioria, cada momento deve ser considerado imutável, assim como uma coordenada espacial. O “agora” funcionaria como marcos no tempo, assim como as distâncias marcam o espaço. Neste ângulo, não faz qualquer sentido dizer que um momento pode ser mudado. Supor a alteração de um momento é tão lógico e fisicamente consistente quanto mudar as coordenadas que localizam uma dada partícula.

Esse raciocínio leva a ideia de que os momentos existem, ou melhor, coexistem. Nossas observações é que passam por eles. Eis o “do que” o tempo é feito: momentos.

Então porque parece haver um sentido único de deslocamento destes momentos? Porque lembramos do passado mas desconhecemos o futuro? O que dá este sentido ao tempo?

Neste caso, os físicos apontam para a entropia. A entropia é a medida de desordem, de caos, de um sistema. Grosso modo, podemos afirmar que a entropia, além de uma medida de desordem, também é uma medida do quanto de informação que se pode obter de um sistema: quanto mais aleatório, menor é o número de informações.

Os sistemas físicos tendem a evoluir para sistemas desordenados. Um automóvel de último tipo, perfeitamente acabado, virará poeira se deixado anos ao tempo. Isso ocorre com a mais bela forma humana também. Se dentro de uma sala sem qualquer gás, em perfeito vácuo, introduzirmos um balão com hidrogênio e liberarmos o gás, este se espalhará pelo ambiente de forma aleatória, mas ocupando todo o ambiente. Este estado teria maior entropia, pois as moléculas de hidrogênio teriam possibilidades de rearranjo muito superior ao seu confinamento inicial no balão. Isso exemplifica a segunda lei da termodinâmica.

Simplificando, usaremos este pensamento de forma regressiva e concluiremos, forçosamente, que no Big Bang há uma incrível ordem. Esta ordem é fruto da gravidade, pois esta força impunha ao universo recém-nascido uma uniformidade sem igual e, portanto, de entropia desprezível se comparado ao padrão atual do universo.

Em última análise, do exposto, pode-se dizer que a direção única do tempo é fruto das condições iniciais do universo.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Mecânica Quântica


Outra grande revolução que aconteceu na física da primeira metade do século XX foi o desenvolvimento da mecânica quântica (MQ). Este ramo da física estuda o domínio subatômico, o que compõe os átomos e os componentes básicos de nosso universo (o domínio deste estudo tem se ampliado muito desde suas primeiras concepções e experimentos de sucesso).

A separação com a física que vigorava quando do desenvolvimento da MQ se deveu, sobretudo, ao tratamento dado a luz como constituída de pequenos pacotes de energia, denominado por fótons. Em 1900, Max Planck teorizou esta hipótese como explicação a radiação emitida por um corpo incandescente.
Em 1921 Einstein ganhou o prêmio Nobel de física por um artigo que escreveu em 1905. Curiosamente não foi um devido a teoria da relatividade, mas sobre o efeito fotoelétrico.

Estava quebrada a ideia na qual se concebia que a energia poderia ser dividida indefinidamente em partes cada vez menores: a luz (onda eletromagnética) não é continua, mas sim discreta - pequenos pacotes. Logo, Werner Heisenberg (Copenhague), Paul Dirac (Cambridge) e Erwin Schrödinger (Zurique) desenvolveram uma série de trabalhos sobre a mecânica quântica.

Mas é muito imprecisa a analogia de comparar as ondas do mar, constituída de partículas água, com ondas de luz, composta por fótons. A diferença cabal e que cada fóton tem comportamento tanto de partícula quanto de onda (ao menos na interpretação dominante entre os físicos).

As leis da física que vigoram no domínio da mecânica quântica é significativamente diferente da intuição da leis da física que estamos  acostumados. O domínio macro, descrito pela física clássica, passou a ser visto pelos físicos como uma particularidade, ou uma aproximação, da física moderna.

Sobre este ramo da física, Brian Geene, um dos grandes físicos da atualidade, nos alerta:

“(...) temos de alterar significativamente tanto a nossa linguagem quanto o nosso raciocínio para tentarmos compreender e explicar o universo nas escalas atômicas e subatômicas.”

Segundo a MQ, não se pode afirmar que uma partícula tenha uma dada posição até que se faça uma medição. Enquanto a observação não ocorre, o que existe são possibilidades de posições. A física quântica pode ser encarada como física das possibilidades. O termo "probabilidade" aqui não deve ser entendido como nos jogos de azar ou na previsão de vendas de ações de uma determinada empresa. Nestas faltam informações para uma conclusão final exata. Na MC, por melhores que sejam nossos sensores de coleta de medição, de levantamento de informações, e processamento destas, ainda assim só poderemos ter probabilidades no universo subatômico Costuma-se dizer que as partículas, na MQ, tem comportamento também de onda. Do que é esta onda? Falamos aqui de uma onda de probabilidade, ou seja, a possibilidade de um elemento (elétron, fóton, etc) estar em dado momento em algum lugar. Onde a maior probabilidade de achar a partícula, há alta densidade de probabilidade.

Um objeto quântico tem sua onda espalhada por todo o universo. Isso significa que quando é feita uma medição de um elétron, por exemplo, ele pode estar do outro lado da cidade, do planeta ou da galáxia. A equação usada para escrever a “dinâmica” destas partículas subatômicas dá aos cientistas a probabilidade da partícula ser encontrada em determinado local. Mas a possibilidade desse elemento estar em qualquer parte do universo é diferente de zero.

Outro aspecto curioso e fora das experiências diárias é o fato da medição de uma experiência estar intimamente indissolúvel com a mesma. Quando se mede uma determinada experiência na MQ, o ato de medir é determinante na realidade que se configura nesta medição. O fato é tão estranho a nossa realidade diária que levando o mesmo para a vida cotidiana e assumindo que nossa observação é uma forma de medir, um famoso físico questionou:

Você acha mesmo que a Lua não está no céu a menos que a gente olhe pra ela?”
Albert Einstein

domingo, 20 de maio de 2012

O Universo e a Mente



"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dele." 
(João 1:1-3)


Introdução
Vivemos no universo físico, ou material. Um objeto de matéria sofre influência de outros objetos de mesma natureza. Por outro lado, acredita-se que temos uma alma, algo que guarda nossa essência pessoal, que sobrevive e antecede a vida do corpo que ora “habitamos”.
Uma pergunta natural desta situação é: como algo não físico interage e “domina” algo que é físico?

 A informação como base da existência
A citação que abre este texto nos é apresentada pelo apóstolo João. O Verbo, no sentido de “palavra oralmente expressa”, indica que a criação vem à existência de forma análoga a que expressamos nossos pensamentos (na maioria das vezes) a outras pessoas.
A palavra é a (ou uma forma de) portabilidade (ou de um conjunto) de informações. Além disso, dito de forma simplificada, para que seja estabelecida uma efetiva comunicação entre duas pessoas é necessário que a mensagem seja percebida e compreendida.
Podemos, então, afirmar que, no ponto de vista apresentado pelo apóstolo João, nosso universo é produto da expressão inteligente do Criador, a qual é, a nós, inteligível. A informação do Verbo de Deus molda e define a criação, bem como a nós na mesma. É a informação, a qualidade desta e nossa compreensão, que permite que diferenciemos tudo: água de madeira, ar de luz, passado de futuro, etc. Em consequência direta, essa informação, o Verbo, é que possibilita e dá existência à criação.

A mente que dirige o universo
Há muitas representações de Deus nas culturas que cercam o mundo. Contudo, parece-me que as representações físicas do Criador são pobres para captar a grandiosidade infinita. Todavia, em Gênesis, acha-se uma dica: o homem é a imagem e semelhança de Deus.
Alguns podem dar uma interpretação física para essa citação (um velho de longa e vistosa barba branca, por exemplo), mas eu prefiro outra analogia: a mente humana. Na Terra, biologicamente abordando, não somos a forma de vida mais forte, ou a mais resistente. No entanto, somos aquela dominante no planeta. Poucos discordariam que a grande vantagem que temos sobre outras formas de vida conhecidas e nossa capacidade mental, nossa inteligência. É nosso grande diferencial.
A maneira que cada um de nós pensa e, fruto disto, age é que nos caracteriza de forma indiscutível. Por certo, a aparência, o corpo, também é um forte identificador. Mas, todavia, dois gêmeos idênticos podem ser reconhecidos por atitudes diferentes, características de mentes distintas e particulares.
Ao se assumir (ao menos em parte) a formulação proposta pelo professor Amit Goswami sobre como a mente cria todo nosso universo e, ainda, que partilhamos de uma só consciência, como explicar a diferenciação mental particular que caracteriza de forma única todos nós? E, ainda, como uma só mente “induz” nossos cérebros diferentes?

Microcosmo e macrocosmo
A resposta àquela pergunta passa, inicialmente, pela percepção de que o nascimento e a história do nosso universo estão estritamente relacionados aos fenômenos de domínio de estudo da mecânica quântica (bem como da relatividade). A base elementar de tudo que observamos é objeto de estudo desta teoria (ou conjunto de teorias) da física.
Neste contexto, nossas mentes deveriam, em tese, ter uma ligação estreita com tais estudos. Algo aponta nesse sentido? Sim.

Uma possibilidade de entendimento de como isso é possível se dá pelo mecanismo proposto por StuartHameroff e Roger Penrose para o funcionamento da consciência: o cérebro seria um computador quântico. Essa nova perspectiva científica do funcionamento do cérebro pode levar a compreender que a estrutura conformada pelos neurônios que definem nosso sistema nervoso funciona como um “leitor”, a nível subatômico, das informações mais básicas que constituem e definem todo o universo.

Assim, a arquitetura geral das ligações que resultam nas sinapses nervosas particulares a cada um de nós é uma resposta que leva a compreensão da particularidade perceptiva e, em função desta, das ações diversas que tomamos frente aos acontecimentos a que presenciamos. Em outras palavras, as ligações das células nervosas em nossos cérebros seriam com impressões digitais: únicas. Por tal particularidade, a leitura mental realizada pelo cérebro é específica e exclusiva a cada um de nós.

Nosso sistema nervoso central, de forma mais genérica, seria análogo ao seletor de canais de uma televisão que, dentre diversos sinais transmitidos por várias emissoras (pelo ar ou via cabo), captaria com perfeição dadas informações de uma delas. Esse conjunto de informação, em analogia ao canal da televisão, é que chamamos de alma. A “imagem” resultante é o que chamamos de consciência.

É possível, ainda, num exercício livre e mais amplo, entender que esse mecanismo reflete algo que ocorre também em outros planos de existência (quando admitimos a existência desses). Almas (ou corpos) de realidades distintas que induziriam a consciência do corpo que está em uma realidade mais densa imediatamente subsequente.

Seriam como transformadores de voltagem (ligados a uma só usina de energia) que recebem tensão de dada voltagem em um lado e fornecem outra voltagem do outro. Uma particularidade conveniente: determinados efeitos em ambos os circuitos (do lado de alta ou de baixa voltagem) podem apresentar reflexos no circuito oposto.

 

A mente universal e o que tomamos como nossas mentes individuais

Assim, o Verbo que traz a existência e modela a criação é o mesmo que anima a alma e que, em última instância, nos “fala” na mente.

O que está sendo proposto neste texto é o mecanismo pelo qual a alma, suposta não material, induz e controla o cérebro (material). Conceitualmente, está quebrada a barreira entre o que é e o que não é considerado matéria [1].

Assim, de forma análoga a que se modela matematicamente as possibilidades de uma partícula subatômica (um elétron se deslocando, por exemplo), ou, ainda, todo o universo por meio de uma função de onda probabilística, nosso cérebro, no contexto apresentado, também teria todas suas possibilidades descritas matematicamente nos moldes da citada função de onda.

Todavia, retornando a proposta de Amit Goswami, a função de onda pode ser interpretada como a manifestação, o efeito perceptível, da modelagem imposta pela mente única ao universo. Em outras palavras, nossa consciência seria modelada matematicamente (assim como, em tese, todo o universo ou uma simples partícula). Essa modelagem é, em última instância, a manifestação física da mente que define a criação: nossas consciências, portanto, seriam (descritas por) funções que, uma vez somadas, compõem aquela que permite a manifestação do universo [2].

Do exposto, nossas consciências e cada ínfima partícula que existe neste universo tem a mesma origem: são conformadas de maneira análoga. Assim, a questão apresentada na introdução deste texto “como algo não físico interage e domina algo que é físico?” é respondida por: o universo físico é um efeito, uma leitura, de informações que só fazem sentido a luz de uma única mente que o modela e o constrói, bem como permite ser partilhada (em parte) por criaturas que existem em tal criação. Note que há uma interdependência da manifestação (parcial) da mente pelo cérebro (ou pelo corpo, de forma geral) com a própria existência do mesmo enquanto matéria.

Essa é uma proposta em que a mente forma o universo e, nele, a matéria. É o oposto ao que se propõe em termos canônicos acadêmicos, de que a mente é fruto de um epifenômenos do cérebro.


Por fim, da conclusão apresentada, seria justo perguntar se há pesquisas que indiquem que a mente independe do cérebro. Proponho que seja verificado uma publicação feita na revista The Lancet, em 2001, dos pesquisadores Pim van Lommel, Ruud van Wees, Vincent Meyers, Ingrid Elfferich, cuja o título é Near-death experience in survivors of cardiac arrest: a prospective study in the Netherlands.

 

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[1] Lembre-se: a molécula (feita de átomos), último “refúgio” que guarda a propriedade do material que a mesma compõe, tem muito mais espaço vazio do que componentes elementares (como prótons, elétrons e nêutrons). Essa observação também serve para átomos. Perceber, por exemplo, uma pedra como um sólido é uma característica emergente da mesma (mesmo uma estrela bem maior que o sol pode ter todo seu material, se suprimido o espaço entre seus componentes subatômicos, condensado e confinado em um ponto, uma escala dita “infinitesimal”; obviamente, não se está falando do raio do horizonte de eventos. Ver estudos sobre buracos negros).

 

[2] Note que isso não significa que a mente que dirige a criação é a mera soma das mentes menores (nossas), ou dependa delas, mas que nossas consciências (individuais) são simples componentes da mente que rege a criação: cada existência só é possível em um contexto amplo que esteja, obrigatoriamente, em conformidade com a mente única e seu planejamento para a criação.

sábado, 19 de maio de 2012

A Consciência Segundo Stuart Hameroff e Roger Penrose


Sendo bastante simplório, os autores da teoria propõem, de forma originária, que a consciência esteja relacionada aos eventos quânticos.

Roger Penrose afirma ter demonstrado que a consciência é não computacional, ou seja, não pode ser simulada. Para isso, ele agrupa as faculdades da mente em passivas e ativas.

As passivas são as que implicam em receptividade, coisas como perceber cheiros, a harmonia, a paixão, e o uso da memória. As ativas incluem o livre-arbítrio e os eventos conseqüente dele.

De forma exclusiva de ambas as categorias, Penrose dá uma atenção extrema a compreensão, ou insigh, até mesmo a intuição. O físico exempli fica os motivos pelos quais uma máquina, por mais que tivesse memória ilimitada (máquina de Turing), poderia simular tal capacidade mental.
Num exemplo simplório, ele mostra a diferença num desa o: achar um número ímpar que seja a soma de dois números pares.

" Podemos pôr o computador para fazer isso e ele iria seguir em frente para sempre, pois sabemos que, quando adicionamos dois números pares, sempre obtemos um número par. "

Ou seja, se não houver um limitante de operações para a máquina ou não houver uma diretriz que informe que tal operação é impossível, o computador não compreende que não chegará a resposta a qual busca.

O físico também argumenta em favor de da impossibilidade de computadores realizarem as funções passivas da mente. Para fechar seu raciocínio, Penrose argumenta:


" (...) a não-computabilidade em algum aspecto da consciência e, especi ficamente, no entendimento matemático, sugere energeticamente que a não-computabilidade seria uma característica de toda consciência. "

Como físico, o cientista argumenta que a mente advém de uma base física. Ele tece diversos paralelos de como um possível futuro computador quântico poderia simular a mente humana. Segundo do Penrose, a consciência está diretamente ligada a evento quânticos. Só assim se justi ficariam, por exemplo, o insight.

No contexto abordado, Roger Penrose e Stuart Hamero propõem que os microtúbulos (estrutura que compõe e citoesqueleto, dando forma a célula) são os responsáveis por nossa consciência. Estas estruturas, devido as propriedades e forma, apresentam condições que são essenciais para uma interação do universo subatômico com as células.

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HAMEROFF, S. Funda-mentality: Is the conscious mind subtly linked to a basic level of the universe? Trends in Cognitive Sciences, 2(4):119 127, 1998a.

HAMEROFF, S. The penrose-hamero orch or model of consciousness. Philosophical Transactions Royal Society London, (356):1869 1896, 1998b.

HAMEROFF, S. e PENROSE, R. Orchestrated reduction of quantum coherence in brain microtubules: A model for consciousness? Toward a Science of Consciousness - The First Tucson Discussions and Debates,
eds. Hamero , págs. 507 540, 1996.

PENROSE, R. O grande, o pequeno e a mente humana. Editora UNESP, Cambridge University Press.





sexta-feira, 18 de maio de 2012

Relatividade Geral


" Eu sou su cientemente artista para desenhar livremente na minha imaginação. Imaginação é mais importante que conhecimento. O conhecimento é limitado. A imaginação dá a volta ao mundo. "
Albert Einstein


A resolução do primeiro con ito implicou diretamente no segundo. A velocidade da luz como um limite físico implica que não há transmissão de informações acima desta grandeza. Este é o segundo conflito. A mecânica de Newton, em particular sua modelagem da gravitação, implica em infl uência instantânea: dado um corpo com uma massa qualquer, a atração gravitacional é imediata à presença deste corpo. A teoria estava bastante solidi ficada pelos constantes sucessos experimentais. Mas Newton já antevia este problema. Nas palavras do próprio: "É inconcebível que matéria bruta inanimada possa, sem a mediação de algo mais, que não seja material, afetar outra matéria e agir sobre ela sem contato mútuo. (...) A gravidade tem de ser causada por um agente, que opera constantemente, de acordo com certas leis; mas se tal agente é material ou imaterial é algo que deixo à consideração dos meus leitores."


Novamente Einstein resolve o problema. O físico observou que seria impossível para uma pessoa a bordo de uma hipotética nave espacial, sem qualquer referencial externo - digamos que não há janelas na nave - saber se esta repousa na superfície do nosso planeta ou se a mesma estava em movimento acelerado, no exato valor na gravidade terrestre, no sentido longitudinal do corpo (sentido do pé para a cabeça).

Sentimos uma força nos empurrar quando estamos num veículo e este acelera (se estivermos sentados, passa haver uma pressão contra o banco). Num elevador, quando este inicia seu movimento de subida - acelera - conosco dentro, há a sensação de que nosso peso aumenta. É deste tipo de força que o parágrafo anterior fala: na proporção correta, a gravidade pode ser perfeitamente confundida com a aceleração de um determinado ambiente onde nos encontramos (ver exemplo na figura abaixo).

                                                  Gravidade e aceleração: equivalência


Ao propor a teoria geral da relatividade (TGR), o físico descreve a gravidade não mais como uma força com ação instantânea e sem veículo de transmissão. A teoria descreve a gravidade como uma deformação no espaço e do tempo, uma deformação causada pela presença de massa e/ou energia. A a sensação de gravidade que sentimos, como uma força nos puxando, nada mais é do que a tentativa de nos movermos em linha reta na presença de uma depressão causada pela Terra no espaço.


Façamos uma grosseira analogia bidimensional, representado pela próxima fi gura. Imagine uma pesada bola de boliche sobre um colchão macio. A presença da grade esfera deformará a outrora superfície plana do colchão. Se lançarmos uma pequena bolinha de vidro nas imediações da bola de boliche, a esfera menor não fará uma trajetória reta: desviar-se-á devido a depressão presente no acolchoado.

                                                               Deformação do espaço



A gravidade provoca um efeito similar, só que em três dimensões: os planetas orbitam o sol devido a deformação que esta estrela causa no espaço. A lua gira ao redor da Terra segundo a curva que o nosso planeta causa no espaço a sua volta.

Assim, os efeitos gravitacionais proporcionam uma perturbação no espaço-tempo que se propaga a uma velocidade nita, igual a da velocidade da luz (medições recentes levaram a valores práticos bem próximo ao valor teorizado). Isso resolveu o segundo grande confl ito.


A relatividade implicou em outras considerações, como o início para o tempo, a possibilidade de um universo não estático (expandindo ou contraindo) e que em buracos negros o tempo não existe [1].

Só que a TRG gerou o terceiro grande con ito na física: a gravidade da TGR é incompatível com a mecânica quântica. Esta incompatibilidade é explicada em seção posterior. A diferença de previsões nas teorias de maiores sucesso na física ainda encontra-se sem solução, pois depende de uma teoria sobre tudo (TST), uma teoria única defi nitiva.

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[1] O amigo Nelson Magrini alertou que esta informação só é precisa para a singularidade, ou seja, para o ponto aonde o buraco negro existe propriamente.







sábado, 12 de maio de 2012

Relatividade Especial


" Às vezes me pergunto porque eu fui o único a desenvolver a teoria da relatividade. A razão, acho, é que um adulto normal nunca pára pra pensar nos problemas de espaço e tempo. Essas são coisas que só as crianças pensam. Mas como meu desenvolvimento intelectual foi retardado, como resultado eu comecei a me perguntar sobre espaço e tempo somente quando cresci. "
Albert Einstein


Quando o escocês James Clerk Maxwell modelou e apresentou sua teria eletromagnética, em 1864, ocorreu o primeiro dos três grandes conflitos da física. Que conflito? Para entender, vamos até a formulação da mecânica feita por Isaac Newton.
Em síntese, a abordagem dada por Newton na física clássica permite, caso se viaje su ficientemente rápido, que víssemos um feixe de luz como estacionário: estaríamos a mesma velocidade que a luz. Se você já está acostumado àquela velho dito, modernamente popular, de que nada pode viajar mais rápido que a luz , a minha afi rmativa sobre a teoria de Newton deve lhe parecer estranha.
Para nós, no século XXI, isso pode até soar estranho, mas para o século XIX e boa parte do século XX, não havia tal estranheza. A modelagem matemática da mecânica newtoniana permite alcançarmos a velocidade da luz ou qualquer outra: não há nenhum fator teórico que impedisse isso. Além disso, os cálculos de Newton seguiam aquilo que estávamos acostumado a experimentar, o que pertence ao senso de observação comum.
Nossa experiência diária nos mostra que se estamos num carro que se desloca a 50 km/h em determina estrada e logo a nossa frente segue outro veículo a 70 km/h, a velocidade relativa (ou seja, observada de um veículo em relação ao outro) é de 20 km/h (70-20). Outra coisa: se atirarmos uma pedra a 30 km/h do veículo mais lento, na mesma direção que o carro se desloca, um observador estacionário em relação ao veículo perceberá a pedra a 80 km/h pedra (50+30).
Mas, na época de Maxwell, já se tinha determinado que a luz tinha uma velocidade nita, embora muito alta. Quando ele desenvolve sua teoria eletromagnética, fi ca claro que a velocidade da luz teria de ser constante, em dado meio, independentemente da velocidade ou aceleração dos observadores.
Isso signi ca que se um pedestre acende uma lanterna e o feixe luminoso corre paralelo a estrada, os motoristas que trafegam em ambos os sentidos, independente da velocidade de seus carros - ainda que sejam carros futuristas de velocidades na casa das dezenas de milhares de quilômetros por hora -
todos mediriam a velocidade da luz com o mesmo valor.
Por algum tempo esse confl ito permaneceu. Em 1887 vários experimentos indicavam a invariância da velocidade da luz. Em termos das leis físicas, Einstein resolveu o problema com a teoria especial da relatividade (TER).
A relatividade se baseia num postulado que Einstein percebeu: as leias da natureza devem ser iguais para observadores em movimento livre. Porém, a solução do cientista mudou completamente a maneira de se encarar o espaço e o tempo: de palco onde se desenvolve as tramas do universo passou a fazer parte da trama dinâmica da peça artística.
Na TER, o espaço-tempo forma um continuo quadridimensional cuja percepção e medida dependiam do observador, ou seja, são relativas ao referencial de quem as medem. Em exemplos práticos, isso signi fica que o tempo e espaço de uma dada região ou objeto medidos na Terra, em Urano ou numa nave interplanetária, discordarão em termos numéricos se estes referenciais estiverem em movimentos relativos entre si. Distância e tempo passam a ser relativos ao movimento do observador.

Assim, a dilatação do espaço-tempo é uma das conseqüências marcantes da TER. Outra conseqüência é a velocidade da luz27 como um limite universal para velocidades.
Embora a teoria passe longe da intuição diária que experimentamos, experiências a tornaram um pilar da física atual. A razão deste descompasso entre experiência diária e previsões de relatividade é que os efeitos predito pela TER só são percebidos a grandes velocidades, muito maior que a dos atuais caças e foguetes.


quarta-feira, 9 de maio de 2012

Interpretações da mecânica quântica



Introdução
Imagine que temos um dado, em perfeito equilíbrio, de seis faces numeradas de 1 a 6. Nestas condições, é fácil perceber que, para obter um dos seis números em um lançamento do dado, as chances são de uma em seis, ou seja, de 1/6 ou, aproximadamente, 16,7%.
Agora admita que vou manipular as chances nos lançamentos, “viciando” o dado (deixando-o desiquilibrado).
Minha primeira manipulação é dobrar as chances de obter o número 5 em relação aos demais.  Assim, em sete lançamentos, espera-se obter 1/7 (cerca de 14,3%) de chance para cada número diferente de 5 e, para este, 2/7 (cerca de 28,6%), ou seja, o dobro dos demais.
Minha segunda manipulação é fazer o número 6 ser obtido o dobro de vezes (em média) que o número 5. Isso equivale a direcionar os lançamentos de forma que (em média), em dez jogadas, os números de 1 a 4 saiam uma vez, o 5 saia duas vezes e o 6 saia quatro vezes. Tem-se, assim, chances de: 10% para os números de 1 a 4, 20% para o 5 e 40% para o 6.
De forma genérica, pode-se dizer que a densidade de probabilidade de se obter o número 6, com o dado viciado, é maior do que obter o cinco. De forma análoga, a densidade de probabilidade de se obter os números de 1 a 4 é menor do que os outros dois valores.
Digamos que vc esteja vendado enquanto o dado é lançado. Você pode ouvi-lo quicar na mesa, mas não imagina o valor que ele exibirá ao final do movimento. De certa forma, é como imaginar que todas as probabilidades de quaisquer das faces aparecerem corressem (ao menos em sua mente) paralelamente. Ao remover a venda, observando o dado, verá que todas as probabilidades das cinco faces “perdedoras” são, agora, de 0% e a face exibida, a “vencedora”, é 100%.
É claro que um observador desvendado verificou que o dado fez uma determinada trajetória que resultou na face vencedora. Se pudéssemos equacionar todos os fatores e variáveis que influenciam no lançamento e trajetória, poderíamos, teoricamente, calcular qual seria o número que o dado apresentaria ao fim do seu movimento. O tratamento estatístico, neste caso, é meramente devido às dificuldades práticas de equacionamento e cálculo. Neste caso, não é razoável ao senso comum supor que o dado faria, simultaneamente, todas as trajetórias possíveis e, após olharmos, somente uma seria efetivamente observada.
Contudo, na mecânica quântica, o comportamento é perturbador ao senso comum.
A partir do princípio da incerteza (W Heisenberg, 1927), verifica-se que não podemos medir posição e velocidade (na verdade, quantidade de movimento) com precisão absoluta, simultaneamente, para a mesma partícula em dado momento. A medição dessas grandezas é que permiti se estabelecer uma trajetória (como vemos o dado fazer).
Contudo, surge, aqui, uma discussão: é meramente uma barreira teórica e tecnológica, ou se, de fato, é um comportamento da natureza.

Medição e incerteza
Para se calcular um resultado na mecânica quântica, em dados experimentos, utiliza-se a equação de  Schrödinger. Ela nos permite quantificar a densidade de probabilidade das medições possíveis de serem obtidas, dando resultados, grosso modo, como as densidades de probabilidade de se obterem os números de 1 a 6 ao se lançar o dado. Só que, aqui, o lançamento do dado é sempre feito com o observador (o pesquisador) de “olhos vendados”: por se tratar de elementos muito pequenos, em geral bem abaixo da escala atômica, não os podemos ver, só calcular a probabilidade dos resultados. Mas, e se pudéssemos “ver”?
De acordo com a interpretação da mecânica quântica utilizada, pode-se defender que: a impossibilidade de determinar, por exemplo, a trajetória de um elétron é um comportamento inerente da matéria (ou seja, todas as trajetórias possíveis ocorrem simultaneamente, chamado de superposição [1]); ou, ainda, argumentar que se trata de mera limitação técnica.
Que há uma onda probabilística associada à medição, de uma forma direta ou não, não há dúvida. Essa certeza se origina empiricamente, como, por exemplo, o experimento da dupla fenda (animação).
Esta experiência ilustra o comportamento dual, partícula-onda, que ocorre com elementos sujeitos aos efeitos verificados no nível da mecânica quântica, chamados aqui de objetos quântico. Tais comportamentos específicos não são desconhecidos no “mundo clássico”.
Mas a equação de Schrödinger é mera descrição matemática ou é, de alguma forma, a descrição da realidade? Vejamos as interpretações dos físicos.
1.    Interpretação Ondulatória (segundo a ideia de Erwin Schrödinger: objetos quânticos são, na realidade ondas, aproximando da visão de John von Neumann). Antes da detecção, o objeto quântico se desloca como onda, permitindo uma localização, com maior ou menor precisão, ao ser detectado, um comportamento de partícula, portanto. Assim, no deslocamento, tem-se uma onda espalhada e na detecção, tem-se um “pacote” de onda bem estreito, o que resulta na interpretação de partícula. Não há, portando, coexistência do comportamento espalhado com o pacote estreito (de onda ou partícula) [2].
2.    Interpretação Corpuscular (de, por exemplo, Alfred Landé e Leslie Ballentine). O objeto quântico é uma partícula, não existindo onda a ele associada. Neste caso, o padrão de interferência é justificado com base na interação do objeto quântico e o objeto que inicia, supostamente, a possibilidade de verificação da auto interferência (no caso da dupla fenda, o antepara com as fenda) [2].
3.    Interpretação Dualista Realista (originada por Louis Broglie e difundida mais largamente por David Bohm). O objeto quântico é duplamente composto: uma partícula (com características clássicas bem definidas, como trajetória) e uma onda associada (uma onda piloto, guia da partícula). É como se a partícula surfasse a onda de probabilidade. Assim, onde tal onda se cancela, é região proibida à partícula [2].
4.    Interpretação da Complementaridade (de Niels Bohr). O objeto quântico é de caráter absolutamente ondulatório ou corpuscular, nunca ambos simultaneamente. O que é verificado na medição é que esclarece quais dos comportamentos foi adotado [2].

Em relação à função de onda, a equação de Schrödinger, apresentar uma descrição real do objeto quântico e, ainda, se a teoria fornece uma descrição completa ou incompleta da natureza, pode-se adotara seguinte tabela [2]:

Interpretação
Realidade?
Descrição
Ondulatória
Real
Completa
Corpuscular
Epistêmico
Incompleta
Dualista Realista
Real
Incompleta
Complementaridade
Epistêmico
Completa


Considerando a solução ao Paradoxo EPR, o qual supunha que a mecânica quântica não era completa, em princípio, as interpretações Ondulatória e da Complementaridade estão em vantagem.


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[1] Princípio da Superposição: Dados dois estados admissíveis de um sistema quântico, então a soma desses dois estados também é um estado admissível.

[2] Oswaldo Pessoa Jr: Conceitos de Física Quântica Vol 1.

sábado, 5 de maio de 2012

Mente versus Cérebro


Visão geral

Um bom indicador para a divergência no meio científico em relação ao estudo da mente pode ser verificado ao se analisar as conclusões (gerais) resultantes dos que trataram do assunto na “Rumo a uma Base Científica para a Consciência”, em 1994, no Centro de Ciências Médicas da Universidade do Arizona, em Tucson. O evento teve cerca de trezentos participantes.
As conclusões sobre o assunto que foram lá apresentadas podem ser agrupadas, de forma genérica, em dois grandes conjuntos de concepção sobre o que é a mente: uma forma de campo, uma presença no cérebro; ou um mero processo cerebral, um efeito da atividade neste órgão (um epifenômeno). Talvez seja uma reedição da antiga “luta” que Descartes tentou apaziguar.
No caso do “campo” (mental), a consciência é tida como algo sem emendas, de certa uniformidade, mas com intensidade variável em formas de vidas distintas, ou, até, em estados de vigília diferentes. É tida no nível científico, como a psicologia o trata. É quase um mistério que habita no cérebro e nos permite toda a espécie de experiência subjetiva.
Os neurologistas preferem a interpretação de que a mente é um epifenômeno do cérebro, um uma atividade quase secundária - é como o vento em relação à atmosfera: a descrição de uma ação do meio. Para os que assim interpretam, é improcedente considerar a mente sem levar em conta o cérebro.
Outra patente diferença verificada na conferência de Tucson, nos termos de Christof Koch, foi a divergência de opiniões entre “físicos” e “biólogos”. Os primeiros acreditam que uma característica surpreendente e ainda não observada na natureza aclarará o fenômeno da consciência. Algo simples e contundente. Já os “biólogos” estão acostumados com interações múltiplas, uma gama de processos contribuindo na resultante.
Enfim, tratando-se de estudos sobre a consciência, pode-se afirmar que existem muitas divergências e que ainda estamos engatinhando no entendimento básico da natureza da mente.


Um artigo com incomuns interpretações de resultados


Há indício ou prova de que a mente exista independente das atividades neurais? Procuremos exceções à regra dominante e aceita no meio acadêmico, mas sem sair deste mesmo meio.
Não é de se esperar uma abundância de experiências e artigos que colimem em desacordo com o consenso de maioria. Isso ocorre devido a publicações que se chocam com paradigmas vigentes colocarem seus autores em situação delicada no meio científico, caso o artigo não tenha provas avassaladoras a favor do que é argumentado no mesmo.
O médico Pim van Lommel, cardiologista do Hospital Rijnstate, em Arnhem, Holanda, em conjunto com outros pesquisadores, apresenta um artigo [1] cuja temática e conclusão são raríssimas no meio científico pertinente: os autores descrevem a constatação de atividade mental em pessoas cujo sistema nervoso central estava desprovido de qualquer impulso nervoso detectável. A experiência publicada cita compilações de casos de doentes clinicamente mortos, entenda-se “sem impulsos nervosos mensuráveis”, que, após terem a consciência restaurada, traziam relatos do período em que eram considerados “mortos”. O cardiologista holandês (e equipe) deu um tratamento científico ao caso.
O médico Sam Parnia, do Hospital Geral de Southampton, no sul da Inglaterra, foi um dos chefes da pesquisa feita em 10 hospitais holandeses onde foram observadas 1500 pessoas das quais pelo menos 63 relataram a experiência da quase morte. Os pacientes observados ficaram de 15 segundos a 43 minutos clinicamente mortos.
O artigo [1] mostra relatos de atividades de diversas pessoas, nos hospitais em que estavam ou fora destes, no mesmo período em que os pacientes eram considerados clinicamente mortos. Supreendentemente, alguns dos fatos descritos, inclusive fora do hospital, puderam ser comprovados.
O trabalho em apreço foi fonte de alguns documentários. Em um destes, exibido pelo canal Discovery, o Dr Peter Ferwick, neurologista e neuropsiquiatra, nos afirma: “Numa parada cardíaca, monitorando o cérebro, verá que a atividade deste cessa em até 8 segundos, se desativa. A neurociência nos mostra que não há experiência sem função cerebral. Então, quando o cérebro para, toda experiência cessa. Se por algum motivo não cessar, podemos afirmar que a mente e o cérebro não são a mesma coisa”.
Dentre vários relatos, o mais impressionante é o de Pam Reynolds. Sobre o caso, o Dr Michael Sabom - Atlanta, Georgia, cardiologista, afirma: “Se fosse possível fazer uma experiência de laboratório em que se pudesse levar alguém ao limiar da morte, ou até mesmo a morte, e trazer essa pessoa de volta e perguntar do que se lembra, o caso de Pam Reynolds seria o mais próximo dessa experiência.” Pam Reynolds tinha um grande aneurisma cerebral. O primeiro neurologista que ela consultou não lhe deu esperança. Então, ela foi ao Barrow (ou Arrow) Neurological Institute. O Dr Robert Spetzler, neurocirurgião, contrariando os prognósticos, resolveu assumir o caso. Ele descreve a cirurgia como muito delicada, pois, para desenvolver a mesma foram necessários os seguintes procedimentos preliminares:
1.    a temperatura corporal da paciente foi reduzida, ficando entre 10ºC e 15ºC;
2.    o coração e a respiração foram parados; e
3.    sem função cerebral, todo o sangue foi retirado da sua cabeça.
Ela tinha de estar clinicamente morta durante toda a cirurgia. Antes desse “trauma”, o paciente é anestesiado, sua vista é coberta e dispositivos são colocados no seu ouvido para monitorar o cérebro. O paciente é completamente coberto, exceto o crânio, a área que sofrerá intervenção.
Hoje a Sra Reynolds afirma se recordar da preparação antes de entrar na sala. A próxima recordação dela é de um som gutural, como uma broca, e de sentir o topo da cabeça formigando. Em seguida ela relata costumeiros “efeitos especiais”, como luzes, sensação de leveza e paz. Sendo conservador, assumamos que esta parte do relato é explicável pela reação do organismo ao readquirir ou perder a consciência.
A coisa fica interessante quando a Sra Reynolds descreve os instrumentos, bastante incomuns e específicos, usados pela equipe cirúrgica em sua operação. Ela presumira que abririam seu crânio com “uma serra”, mas diz, espantadamente, que usaram algo similar a uma furadeira: descreve as brocas e caixa de ferramentas onde estas estavam guardadas. A pesquisa confirmou que se tratava de uma pequena serra circular, vista na documentação oficial da cirurgia e em foto, de estética similar à indicada pela paciente.
Ela afirma que uma das médicas falara que as artérias da Sra Reynolds eram pequenas: “Parecia que eles estavam mexendo muito embaixo. Eu lembro de pensar: o que estão fazendo? É uma cirurgia no cérebro. Eles iam retirar o sangue das artérias femurais. Não entendi isso”. Com precisão, ela relata a conversa entre os cirurgiões que iriam ligá-la à máquina “coração-pulmão”, dentre outras.
O Dr Michael confrontou o relato da Sra Reynolds com o relatório oficial da cirurgia. Existe uma correlação perfeita entre ambos. Existiam instrumentos que até o Dr Michael desconhecia, descritos pela paciente. Ele achou ridículo quando ela descreveu um instrumento como uma “escova elétrica”. Pediu uma foto para ver o material e, espantado, revelou que parecia mesmo com uma escova elétrica.
O Dr Spetzler não acha possível que ela tenha visto os instrumentos cirúrgicos na sala de cirurgia. Nas palavras do próprio: “A broca, por exemplo, estava guardada. Estava tudo coberto dentro das embalagens. Só abrimos as embalagens com o paciente dormindo para manter o ambiente estéril”. Sobre o que foi ouvido, ele afirma: “Nesse estado da operação ninguém pode ver ou ouvir coisa alguma, e me parece inconcebível que ela tenha ouvido. Fora isso, havia dispositivos em seus ouvidos. Seria impossível ela ouvir”. Declara ainda: “Não tenho explicação para o que aconteceu. Não sei como aconteceu, considerando o estado fisiológico dela. Mas já vi tantas coisas que não posso explicar. Não sou arrogante a ponto de dizer que não pode ter acontecido.”
O Dr Michael conclui, por esses fatos, que houve uma percepção extrassensorial, ou experiência extracorpórea.
O aludido artigo [1] traz:  How could a clear consciousness outside one's body be experienced at the moment that the brain no longer functions during a period of clinical death with flat EEG?”, em tradução livre: Como poderia uma consciência claramente fora do próprio corpo ser experimentada no momento em que o cérebro não funciona mais, durante um período de morte clínica com EEG plano? De onde se verifica que, para os autores do citado artigo, houve, de fato, uma experiência de consciência fora do corpo quando este não exibia sinais neurológicos detectáveis.
Para os fatos descritos naquela publicação científica, a teoria acadêmica vigente não tem resposta. Um único artigo é pouco para se tirar uma conclusão segura. Porém, ao se considerar que, naqueles casos tratados no citado artigo, é fato a permanência da percepção do “eu” mesmo sem qualquer atividade nervosa, tem-se uma conclusão: o cérebro não é a fonte que caracteriza a sensação do “eu”.
Se estendermos a citação de Stephen Hawking “Qualquer teoria física é sempre provisória, no sentido de ser apenas uma hipótese: nunca é possível prová-la. Não importa quantas vezes os resultados dos experimentos estejam de acordo com alguma teoria, você nunca poderá ter certeza de que, na próxima vez, o resultado não a contradirá. Por outro lado, você pode desacreditar uma teoria encontrando uma única observação que seja discordante de suas previsões.” à neurologia e, ainda, considerarmos como fato o descrito no artigo [1], as conclusões (ou parte delas) lá expressas, então o modelo de consenso estaria invalidado.


[1] van Lommel, P., van Wees, R., Meyers, V. and Elfferich, I.; Near-death experience in survivors of cardiac arrest: a prospective study in the Netherlands; Lancet 358, pag 2039-2045; 2001.