quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Mente vs Cérebro


Qualquer teoria física é sempre provisória, no sentido de ser apenas uma hipótese: nunca é possível prová-la. Não importa quantas vezes os resultados dos experimentos estejam de acordo com alguma teoria, você nunca poderá ter certeza de que, na próxima vez, o resultado não a contradirá. Por outro lado, você pode desacreditar uma teoria encontrando uma única observação que
seja discordante de suas previsões.
Stephen Hawking

Há indício ou prova de que a mente exista independente das atividades neurais? Procuremos exceções à regra dominante aceita pelos acadêmicos. Não é de se esperar uma abundância de experiências e artigos que colimem com minha busca. A ciência oficial tem uma posição quase dogmática sobre a inteira dependência da mente em relação ao cérebro. Qualquer cientista que publique algo contrário, sem evidências incontestáveis, está fadado ao descaso e certo desprezo dos companheiros de profissão: uma verdadeira inquisição moderna, um limbo acadêmico.

Mesmo assim, os trabalhos vindos de artigos científicos são capitais. A costura de ideias que apresento como teoria é também estabelecida por indícios físicos e apoiada em alguns fatos provados.

Uma destas raras matérias científicas que apresentam constatação de atividade mental em pessoas cujo sistema nervoso central estava desprovido de qualquer impulso nervoso é apresentado no artigo do médico Pim Van Lommel, cardiologista do Hospital Rijnstate, em Arnhem, Holanda [1]. A experiência publicada cita compilações de casos de doentes clinicamente mortos, entenda-se “sem impulsos nervosos”, que, após terem a consciência restaurada, traziam relatos do período em que eram considerados mortos. O cardiologista holandês deu um tratamento científico ao caso.

O médico Sam Parnia, do Hospital Geral de Southampton, no sul da Inglaterra, foi um dos chefes da pesquisa feita em 10 hospitais holandeses onde foram observadas 1500 pessoas das quais pelo menos 63 relataram a experiência da quase morte. Os pacientes observados ficaram de 15 segundos a 43 minutos clinicamente mortos.

O artigo mostra relatos de atividades de diversas pessoas, nos hospitais em que estavam ou fora destes, no mesmo período em que os pacientes eram considerados clinicamente mortos. Alguns dos fatos descritos, devido a natureza passível de registro, inclusive fora do hospital, puderam ser comprovados.

O trabalho em apreço foi fonte de alguns documentários. Em um destes, exibido pelo canal Discovery, o Dr Peter Ferwick, neurologista e neuropsiquiatra, nos afirma: “Numa parada cardíaca, monitorando o cérebro, verá que a atividade deste cessa em até 8 segundos, se desativa. A neurociência nos mostra que não há experiência sem função cerebral. Então, quando o cérebro para, toda experiência cessa. Se por algum motivo não cessar, podemos afirmar que a mente e o cérebro não são a mesma coisa”.

Dentre vários relatos, o mais impressionante é o de Pam Reynolds. Sobre o caso, o Dr Michael Sabom - Atlanta, Georgia, cardiologista, declara: “Se fosse possível fazer uma experiência de laboratório em que se pudesse levar alguém ao limiar da morte, ou até mesmo a morte, e trazer essa pessoa de volta e perguntar do que se lembra, o caso de Pam Reynolds seria o mais próximo dessa experiência.” Pam Reynolds tinha um grande aneurisma cerebral. O primeiro neurologista que ela consultou não lhe deu esperança. Então, ela foi ao Barrow (ou Arrow) Neurological Institute. O Dr Robert Spetzler, neurocirurgião, contrariando os prognósticos, resolveu assumir o caso. Ele descreve a cirurgia como muito delicada, pois:
- a temperatura corporal da paciente foi reduzida, ficando entre 10ºC e 15ºC;
- seu coração e respiração foram parados; e
- sua função cerebral cessou, em até 8 segundos após a parada cardíaca, e todo o sangue foi retirado da sua cabeça.

Ela tinha de estar clinicamente morta durante toda a cirurgia. Antes desse “trauma”, o paciente é anestesiado, sua vista é coberta e dispositivos são colocados no seu ouvido para monitorar o cérebro. O paciente é completamente coberto, exceto o crânio, a área que sofrerá intervenção.

Hoje a Sra Reynolds afirma só se recordar da preparação antes de entrar na sala. A próxima recordação dela é de um som gutural, como uma broca, e de sentir o topo da cabeça formigando. Em seguida ela relata costumeiros “efeitos especiais”, como luzes, sensação de leveza e paz. Os céticos contrários a quebras de paradigmas mostram artigos em que estas sensações são aclaradas pelas pesquisas científicas. Por este motivo, sendo bastante conservador, assumamos que esta parte do relato é mera reação do organismo, nada de metafísico.

A coisa fica interessante quando a Sra Reynolds descreve os instrumentos, bastante incomuns e específicos, usados pela equipe cirúrgica em sua operação. Ela presumira que abririam seu crânio com “uma serra”, mas diz, espantadamente, que usaram algo similar a uma furadeira: descreve as brocas e caixa de ferramentas onde estas estavam guardadas. A pesquisa confirmou que se tratava de uma pequena serra circular, vista na documentação oficial da cirurgia e foto, de estética similar à indicada pela paciente.

Ela afirma que uma das médicas falara que as artérias da Sra Reynolds eram pequenas: “Parecia que eles estavam mexendo muito embaixo. Eu lembro de pensar: o que estão fazendo? É uma cirurgia no cérebro. Eles iam retirar o sangue das artérias femorais. Não entendi isso.”. Com precisão, ela relata a conversa entre os cirurgiões que iriam ligá-la à máquina “coração-pulmão”, dentre outras.

O Dr Michael confrontou o relato da Sra Reynolds com o relatório oficial da cirurgia. Existe uma correlação perfeita entre ambos. Existiam instrumentos que até o Dr Michael desconhecia, descritos pela paciente. Ele achou ridículo quando ela descreveu um instrumento como uma “escova elétrica”.

Pediu uma foto para ver o material e, espantado, revelou que parecia mesmo com uma escova elétrica.

O Dr Spetzler não acha possível que ela tenha visto os instrumentos cirúrgicos na sala de cirurgia. Nas palavras do próprio: “A broca, por exemplo, estava guardada. Estava tudo coberto dentro das embalagens. Só abrimos as embalagens com o paciente dormindo para manter o ambiente estéril.”. Sobre
o que foi ouvido, ele diz: “Nesse estado da operação ninguém pode ver ou ouvir coisa alguma, e me parece inconcebível que ela tenha ouvido. Fora isso, havia dispositivos em seus ouvidos. Seria impossível ela ouvir.”. E continua: “Não tenho explicação para o que aconteceu. Não sei como aconteceu, considerando o estado fisiológico dela. Mas já vi tantas coisas que não posso explicar. Não sou arrogante a ponto de dizer que não pode ter acontecido.”.

O Dr Michael conclui, por esses fatos, que houve uma percepção extrassensorial, ou experiência extracorpórea.

Para os fatos descritos nesta publicação científica, a teoria acadêmica vigente não tem resposta. Um único artigo é pouco para se tirar uma conclusão segura. Porém, o fato de permanência da percepção do “eu” mesmo sem qualquer atividade nervosa leva a uma conclusão: o cérebro também não é a fonte que caracteriza nosso “self“, nosso “eu”.

Nesta linha de pensamento, o cérebro é um órgão interpretativo, um receptor-transmissor, capaz de fazer a interação homem e meio. Isso evidencia que não somos cérebro ou parte deste. Não é a essência do ser humano, não é o que produz a sensação do “eu”.

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[1] The Lancet, Volume 358, Issue 9298, Pages 2039 - 2045, 15 December 2001; Near-death experience in survivors of cardiac arrest: a prospective study in the NetherlandsDr Pirn van Lommel MD, Ruud van Wees PhD, Vincent Meyers PhD, Ingrid Elfferich PhD

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