sábado, 23 de março de 2013

Por que Acredito em Deus - parte III


Antes desta leitura, leia os textos Por que acredito em Deus e a continuação Por que Acredito em Deus parte II, que trazem os artigos que precedem e complementam este.

Nos textos anteriores, mostrou-se, em um contexto científico, a dependência que a matéria exibe em relação aquilo que conhecemos por consciência. Além disto, duas característica elementares, notadas no nível básico da matéria, são sumariamente apresentadas, sendo elas a atemporalidade (a verificação de determinada propriedade, uma medição, pode definir aquilo que nós entendemos como o passado da partícula em termos, por exemplo, de trajetória) e não localidade (a medição tem efeitos imediatos mesmo em grandes distâncias). Como dito no texto anterior, a implicação disto é que a observação feita no que percebemos como “agora” define, em todo ou em parte, a história do universo do seu momento inicial ao seu fim.

Isto posto, como resposta mais robustas aos resultados de laboratório e interpretações existentes relativas à mecânica quântica, pode-se afirmar que a mente é fator fundamental no processo de redução de estado (trazer do quântico para a realidade clássica que percebemos), que a consciência não é mero epifenômeno da matéria (na verdade, no contexto aqui exposto, verifica-se que a matéria, como a concebemos, é que depende da consciência) e, além disso, que por esta última exibir características locais e temporais, a explicação para as características não locais e atemporais verificadas em processos de medição - e consequente definição do universo físico que vivemos - só podem ser derivadas da fonte primária, a mente.


Todavia, tal caracterização para a mente (não locais e atemporal) extrapola o que é definido sobre a mesma em termos acadêmicos. No texto anterior, Por que acredito em Deus 2, foi dito que aquilo que chamamos de consciência deriva de algo que existe no universo, na criação, que independe do tempo e espaço. É exatamente essa consciência, ou mente, primária, da qual tudo deriva, é que pode ser chamada de Deus (uma vez que tal mente passa a figurar como base e agente direto da criação do universo).


Feita a constatação de que a consciência é indispensável para que o universo em que vivemos tenha as leis físicas e, com isto, toda a configuração que experimentamos, façamos uma re-análise com maior riqueza de detalhes.

Primeiro, constata-se que se a conformação do universo depende da consciência, então não se pode falar que é a matéria que gera a mente (no cérebro, como é suposto pela ciência mais ortodoxa).

Pelo experimento da escolha retardada com o uso do apagador quântico, fica claro que não só a sobreposição de estados de dada partícula só é desfeita quando é possível se distinguir uma dentre duas possibilidades físicas (sem que tal distinção implique em qualquer tipo de interação com o elétron, ou fóton, que já não tenha ocorrido), ou seja, se o pesquisador consegue definir, a partir do que é captado pelos sensores, se uma partícula elementar obrigatoriamente apresentou um só caminho percorrido. O curioso é que tal possibilidade independe do tempo. Em outras palavras, a medição feita hoje afeta, ao menos em nível de escala atômica, o futuro e o passado. Mas, como Stephen Hawking e Leonard Mlodinow propõem, essa característica de “seleção dentre possibilidades” para uma partícula pode (e deve) ser estendida a toda a história do universo e às leis que o regem (mesmo a formação do espaço-tempo quadridimensional).  

A citada característica de independência temporal se denomina por atemporal. Logo, os efeitos da consciência na matéria, quando atua como "seletor" que permite definir a história passível de descrição e despreza as potencialidades concorrentes, são atemporais.

A implicação disto é que a observação feita no que percebemos como “agora” define, em todo ou em parte, a história do universo do seu momento inicial ao seu fim (se existir um). Saindo da escala macro do universo e retornando a observação de um fóton, em particular da experiência já citada aqui, note que a redução de estado (perda de sobreposição) implica em definir um (grupo de) caminho(s) para a partícula no seu deslocamento no tempo, momento a momento. Em dado contexto, pode-se afirmar que a partícula tenha estado nesta ou naquela posição. Isso ilustra a característica temporal e local da matéria.

Todavia, se a matéria exibe características locais e temporais, a característica não local só pode vir da outra componente fundamental do universo: a consciência. Contudo, se o fator atemporal é inerente à consciência, então, por certo, no momento inicial do universo, a mente já existia [1], ainda que o espaço-tempo fosse um embrião e a matéria um aglomerado de densidade descomunal. Neste contexto, não faz sentido supor consciências (múltiplas): o universo tem dimensões pontuais neste estágio. Mais ainda: não faz sequer sentido em postular uma consciência local, presa a influências exclusivamente daquilo que a cerca.

Assim sendo, a proposição de uma mente única, uma só consciência, da qual somos parte (e utilizamos de fração da mesma) é a proposta que atende de forma simples e direta as necessidades físicas (e metafísicas) daquilo que observamos na natureza.  

O mais prudente seria afirmar que aquilo que chamamos de consciência deriva de algo que existe no universo, na criação, que independe do tempo e espaço. É exatamente essa consciência, ou mente, primária, da qual tudo deriva, é que pode ser chamada de Deus.


Sobre o que foi dito até aqui.

Baseado exclusivamente conceitos científicos (difundidos e publicados), verifica-se:
- dentre as interpretações da mecânica quântica, àquela que considera a consciência como causadora da redução de estado (grosso modo, responsável pela transição do quântico para o clássico) é a única que está em estrita e total conformidade com o que é verificável experimentalmente; e
- existe um grupo de pesquisadores, embora de posição (ainda) minoritária, que afirma que a teoria dominante de que a mente é mero epifenômeno do cérebro é muito difundida, mas não comprovada. Este mesmo grupo sugere a consideração de um estudo que englobe o conceito de transcendência da mente, pois declaram (em artigo científico de renomada revista) que constataram (o que exige verificação, não subjetividade) atividade consciente em um período de não atividade (detectável) do cérebro.
Usando, ainda, argumentos científicos, verifica-se que:
- os resultados atemporais e não locais inerentes a determinados experimentos relativos à mecânica quântica, bem como uma teoria abrangente que possa simplificar nossos conhecimentos científicos das leis estudadas pelos físicos em uma teoria unificada, requerem uma teoria base não local e atemporal (na qual tempo, espaço, matéria e energia sejam conceitos secundários);
- assim, dos experimentos, deve-se concluir (dentre outras coisas) que a nível elementar da formação do universo e suas leis, os fatores contribuintes tem de ser atemporais e não locais; e
- disto, tem-se que as partículas elementares e o fator que causa a redução de estado (pouco significante são as primeiras sem tal fator) devem ser considerados em um contexto não local e atemporal (em que, parafraseando Lavoisier, nada se perde, nada se cria, apenas se associa, ou melhor, transforma).
Agora pode-se sair do contexto estritamente científico para evidenciar uma associação inconfundível:
- a mente humana é a melhor imagem, e de semelhança inigualável, ao estado primário que conforma nosso universo, pois é por meio daquela que o universo assume a configuração clássica que verificamos (somos, portanto, co-criadores do universo); e
- sem contexto local e temporal, todas as consciência que nos caracterizam devem, obrigatoriamente, resumir-se a uma só (o que não implica que tal mente única se resuma a mera soma das nossas mentes). A consciência única extrapola a eternidade (pois este conceito envolve tempo que é um subproduto da mente única). Assim, nossas mentes figuram como imagens daquela que subsidia a existência como a experimentamos.
Obviamente que uma mente que extrapola (na verdade forma) o espaço-tempo é um conceito muito mais abrangente do que ao empregado comumente para essa palavra, sendo, portanto, a utilização do termo "mente única" uma possível imprecisão na descrição dada aqui, mas é a melhor possível... ou não? Para determinadas pessoas, a melhor designação para a realidade que cria tudo e pode ser diretamente associada à consciência (como a melhor correspondência dentre o que existe no universo) é dada pela palavra Deus.




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[1] O correto seria afirmar simplesmente que a mente existe, visto que, de acordo com a análise aqui apresentada, ela é atemporal: não faz sentido, portanto, colocar o verbo no passado ou futuro.