Antes desta leitura, leia
os textos Por
que acredito em Deus e a continuação Por que Acredito em Deus parte II, que trazem os artigos que precedem e complementam este.
Nos textos anteriores,
mostrou-se, em um contexto científico, a dependência que a matéria exibe em
relação aquilo que conhecemos por consciência. Além disto, duas característica
elementares, notadas no nível básico da matéria, são sumariamente apresentadas,
sendo elas a atemporalidade (a verificação de determinada propriedade, uma
medição, pode definir aquilo que nós entendemos como o passado da partícula em
termos, por exemplo, de trajetória) e não localidade (a medição tem efeitos
imediatos mesmo em grandes distâncias). Como dito no texto anterior, a
implicação disto é que a observação feita no que percebemos como “agora”
define, em todo ou em parte, a história do universo do seu momento inicial ao
seu fim.
Isto posto, como resposta
mais robustas aos resultados de laboratório e interpretações existentes relativas
à mecânica quântica, pode-se afirmar que a mente é fator fundamental no processo de redução de estado (trazer do quântico para a realidade clássica que
percebemos), que a consciência não é mero epifenômeno da matéria (na verdade, no
contexto aqui exposto, verifica-se que a matéria, como a concebemos, é que depende
da consciência) e, além disso, que por esta última exibir características
locais e temporais, a explicação para as características não locais e
atemporais verificadas em processos de medição - e consequente definição do
universo físico que vivemos - só podem ser derivadas da fonte primária, a
mente.
Todavia, tal
caracterização para a mente (não locais e atemporal) extrapola o que é definido
sobre a mesma em termos acadêmicos. No texto anterior, Por que acredito em Deus
2, foi dito que aquilo que chamamos de consciência deriva de algo que existe no
universo, na criação, que independe do tempo e espaço. É exatamente essa consciência,
ou mente, primária, da qual tudo deriva, é que pode ser chamada de Deus (uma
vez que tal mente passa a figurar como base e agente direto da criação do
universo).
Feita a constatação de que
a consciência é indispensável para que o universo em que vivemos tenha as leis
físicas e, com isto, toda a configuração que experimentamos, façamos uma re-análise
com maior riqueza de detalhes.
Primeiro, constata-se que
se a conformação
do universo depende da consciência, então não se
pode falar que é a matéria que gera a mente (no cérebro, como é suposto pela
ciência mais ortodoxa).
Pelo experimento
da escolha retardada com o uso do apagador quântico,
fica claro que não só a sobreposição de estados de dada partícula só é desfeita
quando é possível se distinguir uma dentre duas possibilidades físicas
(sem que tal distinção implique em qualquer tipo de interação com o elétron, ou
fóton, que já não tenha ocorrido), ou seja, se o pesquisador consegue definir,
a partir do que é captado pelos sensores, se uma partícula elementar
obrigatoriamente apresentou um só caminho percorrido. O curioso é que tal
possibilidade independe do tempo. Em outras palavras, a medição feita hoje
afeta, ao menos em nível de escala atômica, o futuro e o passado. Mas, como Stephen
Hawking e Leonard Mlodinow propõem, essa
característica de “seleção dentre possibilidades” para uma partícula pode (e
deve) ser estendida a toda a história do universo e às leis que o regem (mesmo
a formação do espaço-tempo quadridimensional).
A citada característica de
independência temporal se denomina por atemporal. Logo, os efeitos da
consciência na matéria, quando atua como "seletor" que permite
definir a história passível de descrição e despreza as potencialidades
concorrentes, são atemporais.
A implicação disto é que a
observação feita no que percebemos como “agora” define, em todo ou em parte, a
história do universo do seu momento inicial ao seu fim (se existir um). Saindo
da escala macro do universo e retornando a observação de um fóton, em particular
da experiência já citada aqui, note que a redução de estado (perda de
sobreposição) implica em definir um (grupo de) caminho(s) para a partícula no
seu deslocamento no tempo, momento a momento. Em dado contexto, pode-se afirmar
que a partícula tenha estado nesta ou naquela posição. Isso ilustra a
característica temporal e local da matéria.
Todavia, se a matéria
exibe características locais e temporais, a característica não local só pode
vir da outra componente fundamental do universo: a consciência. Contudo, se o
fator atemporal é inerente à consciência, então, por certo, no momento inicial
do universo, a mente já existia [1], ainda que o espaço-tempo fosse um embrião
e a matéria um aglomerado de densidade descomunal. Neste contexto, não faz
sentido supor consciências (múltiplas): o universo tem dimensões pontuais neste
estágio. Mais ainda: não faz sequer sentido em postular uma consciência local,
presa a influências exclusivamente daquilo que a cerca.
Assim sendo, a proposição
de uma mente única, uma
só consciência, da qual somos parte (e utilizamos
de fração da mesma) é a proposta que atende de forma simples e direta as
necessidades físicas (e metafísicas) daquilo que observamos na natureza.
O mais prudente seria
afirmar que aquilo que chamamos de consciência deriva de algo que existe no
universo, na criação, que independe do tempo e espaço. É exatamente essa
consciência, ou mente, primária, da qual tudo deriva, é que pode ser chamada de
Deus.
Sobre o que foi dito até
aqui.
Baseado exclusivamente conceitos
científicos (difundidos e publicados), verifica-se:
- dentre as interpretações
da mecânica quântica, àquela que considera a consciência como causadora da
redução de estado (grosso modo, responsável pela transição do quântico para o
clássico) é a única que está em estrita e total conformidade com o que é
verificável experimentalmente; e
- existe um grupo de
pesquisadores, embora de posição (ainda) minoritária, que afirma que a teoria
dominante de que a mente é mero epifenômeno do cérebro é muito difundida, mas
não comprovada. Este mesmo grupo sugere a consideração de um estudo que englobe
o conceito de transcendência da mente, pois declaram (em artigo científico de
renomada revista) que constataram (o que exige verificação, não subjetividade) atividade
consciente em um período de não atividade (detectável) do cérebro.
Usando, ainda, argumentos
científicos, verifica-se que:
- os resultados atemporais
e não locais inerentes a determinados experimentos relativos à mecânica
quântica, bem como uma teoria abrangente que possa simplificar nossos conhecimentos
científicos das leis estudadas pelos físicos em uma teoria unificada, requerem uma
teoria base não local e atemporal (na qual tempo, espaço, matéria e energia
sejam conceitos secundários);
- assim, dos experimentos,
deve-se concluir (dentre outras coisas) que a nível elementar da formação do
universo e suas leis, os fatores contribuintes tem de ser atemporais e não
locais; e
- disto, tem-se que as
partículas elementares e o fator que causa a redução de estado (pouco
significante são as primeiras sem tal fator) devem ser considerados em um
contexto não local e atemporal (em que, parafraseando Lavoisier, nada se perde,
nada se cria, apenas se associa, ou melhor, transforma).
Agora pode-se sair do
contexto estritamente científico para evidenciar uma associação inconfundível:
- a mente humana é a
melhor imagem, e de semelhança inigualável, ao estado primário que conforma
nosso universo, pois é por meio daquela que o universo assume a configuração
clássica que verificamos (somos, portanto, co-criadores do universo); e
- sem contexto local e
temporal, todas as consciência que nos caracterizam devem, obrigatoriamente,
resumir-se a uma só (o que não implica que tal mente única se resuma a mera
soma das nossas mentes). A consciência única extrapola a eternidade (pois este
conceito envolve tempo que é um subproduto da mente única). Assim, nossas mentes
figuram como imagens daquela que subsidia a existência como a experimentamos.
Obviamente que uma mente
que extrapola (na verdade forma) o espaço-tempo é um conceito muito mais abrangente
do que ao empregado comumente para essa palavra, sendo, portanto, a utilização
do termo "mente única" uma possível imprecisão na descrição dada aqui,
mas é a melhor possível... ou não? Para determinadas pessoas, a melhor
designação para a realidade que cria tudo e pode ser diretamente associada à consciência
(como a melhor correspondência dentre o que existe no universo) é dada pela palavra
Deus.
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[1] O correto seria afirmar simplesmente
que a mente existe, visto que, de acordo com a análise aqui apresentada, ela é
atemporal: não faz sentido, portanto, colocar o verbo no passado ou futuro.