domingo, 27 de outubro de 2013

Realismo Estrutural

Para os físicos o mundo e formado por partículas e campos de força, mas não está nada claro que partículas e campos estão no domínio quântico. O mundo pode ter uma infinidade de propriedades como cor e forma.
Meinard Kuhlmann (*)


O reducionismo adotado pela ciência, em particular pela física, está com problemas. Embora os aceleradores de partículas e o conhecimento recente tenha avançado (O Prêmio Nobel de Física de 2013 foi atribuído ao britânico Peter Higgs e ao belga François Englert por suas descobertas sobre o bóson de Higgs, partícula elementar que explica a origem da massa), a suposição de que o universo é feita por minúsculas partes que podem ser estudadas isoladamente e, a partir destas, a realidade seria explicável pela combinação pura e simples das mesmas está varrendo para debaixo do tapete um grave empecilho à compreensão da intimidade da natureza: a extensão dos conceitos clássicos de partículas e campos usada pelos físicos no domínio da mecânica quântica conduz a percepções enganosas e não reais.

Embora o modelo padrão tenha um enorme sucesso e apresente a teoria mais precisa já vista pela humanidade, nem tudo é um “mar de rosas”. Em poucas palavras, há uma tremenda dificuldade de se definir sobre o que, exatamente, a teoria quântica de campos trata (um problema de ontologia). Os “objetos bases” dela, partículas e campos, se confundem: “A teoria quântica de campo atribui um campo a cada tipo de partícula elementar (...) os campos de força não são contínuos, mas quantizados, o que dá origem a partículas (...) a distinção entre partículas e campos parece ser artificial”, diz Meinard Kuhlmann (*).

Além disso, imaginar um fóton ou um elétron como uma pequena bolinha, conceito comumente utilizado, é “fantasiar”: uma bolinha tem trajetória, mas não se pode assegurar posição ou velocidade de um fóton, por exemplo, sem que meçamos tal grandeza (é como se ela só existisse quando medida).  Há ainda outros fatores (muitos ligados ao observador) que impedem de forma cabal a aproximação do modelo quântico ao clássico.

No caso dos campos, a “coisa” (semelhança entre o clássico e quântico) já se distância na “largada”: enquanto no campo clássico tem-se grandezas físicas associadas (temperatura, intensidade, etc), no campo quântico tem-se entidades matemáticas abstratas (um espectro de possíveis valores) associadas ao mesmo (tendo-se que se considerar uma outra entidade matemática, o operador, para se extrair uma medida física).

Uma possível saída para a confusão que se estabelece a partir daí está em se descartar partículas ou campos como elementos fundamentais e adotar o realismo estrutural, em que a relação entre os objetos é que constituem o fundamental a ser considerado.

Na versão mais forte, os que defendem o realismo estrutural ôntico afirmam que devemos “prescindir dos objetos e assumir que o mundo é formado por estruturas ou rede de relações”, segundo  Meinard Kuhlmann (*).


(*) Para saber mais, leia Scientific American Brasil  nº 136, páginas 39-41, set/2013.